Para a idade ela já é bem adiantada. Já usa os braceletes de metal, gargantilhas de couro, delineador demais, anéis de prata e falsas correntes no coração.
Já exposta a radioatividade da infelicidade fabricada, instalada e bonita. Com sintomas de dor aguda e angústia engasgada. A própria existência pesando levemente, e aumentando o peso.
Um risco.
Ela tem seus motivos, todos têm. Mas a decisão de como reagir é própria. Ela os sobresse e abre, acaricia e cultiva. Deixa a gravidade pesar. Deixa-se cair.
Dois riscos. Mais fundo.
Ela é tão mais importante que isso. Nela não há tanta feiura quanto pensa. Ela não destrói o que toca. Ela não é descartável. Ela tem razão, não é normal mas ninguém é também. Ela é extraordinária. Ela não precisa da dor para se sentir viva. Alguém diga isso a ela, por favor.
Três riscos. Mais fundo, mais fundo.
O mundo tenta quebrá-la e ela se curva a ele. Se expõe. Se deixa ferir. De novo e de novo. Deixa a sombra entrar. Lembre-se que não é tão ruim assim viver, querida.
Torpor. Ela nem sente os hematomas mais. A dor é tão contínua que se tornou dor nenhuma. E há uma fenda do tamanho de uma mão logo acima do seio esquerdo, que sangra um rio.
Um corte.
Pouco a pouco ela observa. A feiura ocupa a beleza. O opaco ocupa a cor. A cinza ocupa o gosto. E a água ocupa o rosto. Por que, garotinha?
Ela fica de pé e deixa a onda vir. Não consegue se levantar. Mas não vale a pena, de qualquer forma. Lá vem outra. Está fora de controle.
Por que a angústia? Por que a dor? Não é sua culpa.
Pode chorar, mas não todas as dores do mundo. Seria muito mais água que o pacífico.
Pode sofrer, mas não a ponto de se sufocar. Não sufoque, garotinha. Não está na hora.
Há ainda uma luz bem ali está vendo? Parece uma estrela.
Mas não adianta, não são falsas correntes, não é? Não são falsas tristezas tampouco bobagens inventadas. Você é real. Você pode escolher as chamas. É seu direito. São a solução, não são? Rápidas, simples e aliviantes. E se apagam em um segundo.
Um tiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário