O tecido da saia da
menina roça levemente sobre suas pernas quando o vento bate. Um mínimo
movimento faz com que olhares aguçados e cheios de desejo impuro virem-se para
ela. Pergunta-se, então, por que não vestiu outra coisa – mas, ao mesmo tempo,
o suor quente e pegajoso que escorre por trás de seu joelho a lembra que não
teria sobrevivido ao calor daquele dia se não fosse por sua saia.
Pergunta-se, então, por
que saiu de casa. Por que decidiu aventurar-se por esse mundo cheio de
injustiças e dores e ódio irracional. A resposta é muito simples: ela não tem
culpa disso. Ela quer viver e usar o que quer e fazer o que quer. Ela luta com
o medo pelos seus direitos. Ela diz a si mesma que ninguém está acima e ninguém
está abaixo; não podem silenciar suas súplicas e nem ela pode minimizar a dor
de ninguém – ela sabe o quão humilhante é quando chamam seus medos mais profundos
de reclamações redundantes.
E ela é linda. Não pelo o
que aparenta ser por fora, mas pelo o que tem em seu interior e transborda; sua
força. Ela não deixa que pisem nela, que digam que é fraca, que a façam
desistir por ser “mais seguro”. Ela não aceita essa falsa liberdade que convém
apenas àqueles que tentam estar sempre por cima. Ela não se conforma como aqueles
que enxergam, mas se calam – que veem o que está errado, tem as ferramentas
necessárias para consertar, mas não o fazem.
Ela se enche de coragem e
caminha pelas ruas confiante, certa de que nada do que faz está errado. Suspira
de alívio quando chega em casa em segurança, sabendo que sozinha não é capaz de
mudar o mundo; mas continuará fazendo o mesmo, dia após dia... Até que não
sinta medo. Até que não precise mais de coragem para sair nas ruas livremente.
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