domingo, 27 de setembro de 2015

Falsa liberdade

O tecido da saia da menina roça levemente sobre suas pernas quando o vento bate. Um mínimo movimento faz com que olhares aguçados e cheios de desejo impuro virem-se para ela. Pergunta-se, então, por que não vestiu outra coisa – mas, ao mesmo tempo, o suor quente e pegajoso que escorre por trás de seu joelho a lembra que não teria sobrevivido ao calor daquele dia se não fosse por sua saia.
Pergunta-se, então, por que saiu de casa. Por que decidiu aventurar-se por esse mundo cheio de injustiças e dores e ódio irracional. A resposta é muito simples: ela não tem culpa disso. Ela quer viver e usar o que quer e fazer o que quer. Ela luta com o medo pelos seus direitos. Ela diz a si mesma que ninguém está acima e ninguém está abaixo; não podem silenciar suas súplicas e nem ela pode minimizar a dor de ninguém – ela sabe o quão humilhante é quando chamam seus medos mais profundos de reclamações redundantes.
E ela é linda. Não pelo o que aparenta ser por fora, mas pelo o que tem em seu interior e transborda; sua força. Ela não deixa que pisem nela, que digam que é fraca, que a façam desistir por ser “mais seguro”. Ela não aceita essa falsa liberdade que convém apenas àqueles que tentam estar sempre por cima. Ela não se conforma como aqueles que enxergam, mas se calam – que veem o que está errado, tem as ferramentas necessárias para consertar, mas não o fazem.

Ela se enche de coragem e caminha pelas ruas confiante, certa de que nada do que faz está errado. Suspira de alívio quando chega em casa em segurança, sabendo que sozinha não é capaz de mudar o mundo; mas continuará fazendo o mesmo, dia após dia... Até que não sinta medo. Até que não precise mais de coragem para sair nas ruas livremente.


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