Gostaria de saber como é lidar com a
morte. Não encará-la, assim, na minha frente. Ou simplesmente esquecer sua
existência. Na verdade, eu queria saber o que esperar dela - seja minha ou de
terceiros -, e como julgá-la. Darei um exemplo.
Com certeza, minha cara companhia da
madrugada - pois este texto foi publicado no exato momento em que um dia vem
após outro -, você já ouviu alguém dizer "A morte é a única coisa justa
nesse mundo cruel...". Provavelmente, essa frase veio acompanhada de uma
expressão de profunda análise filosófica e de um tom de voz nada agradável.
Pode até ter sido você mesmo quem a proferiu e, nem sequer, notou, de tanto que
já a ouviu ou leu. Bem, mas isso não importa. Meu objetivo ao citá-la é
basicamente desconstruí-la, porque, ora, é o que faço da vida.
Em primeiro lugar, deve-se ter em mente
com qual ideal de justiça você trabalhará. Geralmente, a maravilhosa frase a
qual me referi carrega o sentimento de igualdade que tão intenso vive dentro de
cada um e que configura-se como um sonho praticamente inalcançável. Afinal,
todos morrem um dia. Não importam o poder aquisitivo, a influência política, a
religião ou o time de futebol para o qual o sujeito torce: ele vai morrer.
Agora, o ponto onde quero chegar é: Quem foi o idiota que inventou tamanha
mentira! A morte não chega a mesma para todos!! Ora ora, todos sabem que há
quem morra calmamente numa cama macia, cercado por familiares atenciosos e sem
muitas preocupações. Porém, também há aqueles que definham sozinhos ali na
esquina da sua rua, de frio e de fome, bem no meio da chuva forte. Enquanto
isso, você está coberto por um edredom, confortavelmente sentado em sua cama, a
ler o texto que alguma desocupada resolveu escrever para esquecer-se de que
também não faz nada de útil e solidário por aquele camarada lá fora. Engraçado,
né? Como a morte é justa... sempre a mesma, certo? Hm, foi o que pensei... E
você, como julgou essas mortes? Se souber, me diga, pois trata-se exatamente do
assunto dessa postagem, assim como eu disse no primeiro parágrafo.
Ah, sim, agora vem a melhor parte: após
opinar sobre os diferentes rumos que o fim da vida de um "filho do carbono
e do amoníaco" pode tomar, você deve decidir como reagirá perante ao fato.
É claro que controlar por completo seus atos é impossível, afinal, você é uma
pessoa e, sendo assim, também age espontânea e impulsivamente. Ainda mais
diante de acontecimentos tão fortes como a morte! Afinal, repito: você é uma
pessoa, um ser humano! Contudo, acredito que há algumas relações que escolhemos
demonstrar ou omitir, e outras que decidimos inventar. E é isso que, em
quantidade considerável, leva-se durante o resto dessa caminhada chamada vida:
os valores apreendidos dos atos racionalmente escolhidos.
Imagine que, no dia seguinte à morte
daquele Zé qualquer, você sai de seu prédio rumo ao trabalho e, então, vê o
corpo no chão. Sua primeira reação, aposto, será de choque, visto que trata-se
de uma pessoa morte bem na sua frente! Mas você não interrompe o passo. Agora,
após dois segundos de pura interação com o cenário que te foi imposto, você
começa a pensar: o que fazer? Chamar uma ambulância, a polícia? Pedir ajuda a
alguém? "Não... Nem mesmo o conheço", diz seu eu mais prático
enquanto suas pernas seguem em frente. E ainda completa "Deve estar
dormindo, isso sim! Por que não acorda cedo e vai procurar emprego?!"
antes de ir embora de vez. No dia seguinte, já teria esquecido tudo o que
passou-se.
Acertei, não mesmo? Com certeza, você
não lidaria assim com a morte de um conhecido do prédio, ou de um ente querido.
No primeiro caso, se sentiria mal por alguns dias e até iria à missa de sétimo
dia, caso fosse realizada. No segundo, não suportaria a dor por um ou dois anos
e, só então, encontraria um jeito de impedir que pensamentos tristes viessem à
tona uma hora ou outra.
Portanto, minha pergunta é: como lidar
com a morte? Acho que ficou bem claro aqui que as mortes são diferentes e que,
de acordo com cada uma, há uma reação diferente gerada. Então, qual das
posturas devo escolher? O que eu teoricamente deveria fazer? Veja bem, nunca
foi meu intuito te insultar ou dizer que sou melhor do que você simplesmente
porque me dispus a fazer tais análises. Pelo contrário, isso mostra que somos
iguais e preenchidos pelas mesmas angústias e egoísmos.

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