domingo, 28 de junho de 2015

Afinal, a justiça não vem nem para um Zé qualquer

Gostaria de saber como é lidar com a morte. Não encará-la, assim, na minha frente. Ou simplesmente esquecer sua existência. Na verdade, eu queria saber o que esperar dela - seja minha ou de terceiros -, e como julgá-la. Darei um exemplo. 

Com certeza, minha cara companhia da madrugada - pois este texto foi publicado no exato momento em que um dia vem após outro -, você já ouviu alguém dizer "A morte é a única coisa justa nesse mundo cruel...". Provavelmente, essa frase veio acompanhada de uma expressão de profunda análise filosófica e de um tom de voz nada agradável. Pode até ter sido você mesmo quem a proferiu e, nem sequer, notou, de tanto que já a ouviu ou leu. Bem, mas isso não importa. Meu objetivo ao citá-la é basicamente desconstruí-la, porque, ora, é o que faço da vida. 

Em primeiro lugar, deve-se ter em mente com qual ideal de justiça você trabalhará. Geralmente, a maravilhosa frase a qual me referi carrega o sentimento de igualdade que tão intenso vive dentro de cada um e que configura-se como um sonho praticamente inalcançável. Afinal, todos morrem um dia. Não importam o poder aquisitivo, a influência política, a religião ou o time de futebol para o qual o sujeito torce: ele vai morrer. Agora, o ponto onde quero chegar é: Quem foi o idiota que inventou tamanha mentira! A morte não chega a mesma para todos!! Ora ora, todos sabem que há quem morra calmamente numa cama macia, cercado por familiares atenciosos e sem muitas preocupações. Porém, também há aqueles que definham sozinhos ali na esquina da sua rua, de frio e de fome, bem no meio da chuva forte. Enquanto isso, você está coberto por um edredom, confortavelmente sentado em sua cama, a ler o texto que alguma desocupada resolveu escrever para esquecer-se de que também não faz nada de útil e solidário por aquele camarada lá fora. Engraçado, né? Como a morte é justa... sempre a mesma, certo? Hm, foi o que pensei... E você, como julgou essas mortes? Se souber, me diga, pois trata-se exatamente do assunto dessa postagem, assim como eu disse no primeiro parágrafo.

Ah, sim, agora vem a melhor parte: após opinar sobre os diferentes rumos que o fim da vida de um "filho do carbono e do amoníaco" pode tomar, você deve decidir como reagirá perante ao fato. É claro que controlar por completo seus atos é impossível, afinal, você é uma pessoa e, sendo assim, também age espontânea e impulsivamente. Ainda mais diante de acontecimentos tão fortes como a morte! Afinal, repito: você é uma pessoa, um ser humano! Contudo, acredito que há algumas relações que escolhemos demonstrar ou omitir, e outras que decidimos inventar. E é isso que, em quantidade considerável, leva-se durante o resto dessa caminhada chamada vida: os valores apreendidos dos atos racionalmente escolhidos.

Imagine que, no dia seguinte à morte daquele Zé qualquer, você sai de seu prédio rumo ao trabalho e, então, vê o corpo no chão. Sua primeira reação, aposto, será de choque, visto que trata-se de uma pessoa morte bem na sua frente! Mas você não interrompe o passo. Agora, após dois segundos de pura interação com o cenário que te foi imposto, você começa a pensar: o que fazer? Chamar uma ambulância, a polícia? Pedir ajuda a alguém?  "Não... Nem mesmo o conheço", diz seu eu mais prático enquanto suas pernas seguem em frente. E ainda completa "Deve estar dormindo, isso sim! Por que não acorda cedo e vai procurar emprego?!" antes de ir embora de vez. No dia seguinte, já teria esquecido tudo o que passou-se.

Acertei, não mesmo? Com certeza, você não lidaria assim com a morte de um conhecido do prédio, ou de um ente querido. No primeiro caso, se sentiria mal por alguns dias e até iria à missa de sétimo dia, caso fosse realizada. No segundo, não suportaria a dor por um ou dois anos e, só então, encontraria um jeito de impedir que pensamentos tristes viessem à tona uma hora ou outra.

Portanto, minha pergunta é: como lidar com a morte? Acho que ficou bem claro aqui que as mortes são diferentes e que, de acordo com cada uma, há uma reação diferente gerada. Então, qual das posturas devo escolher? O que eu teoricamente deveria fazer? Veja bem, nunca foi meu intuito te insultar ou dizer que sou melhor do que você simplesmente porque me dispus a fazer tais análises. Pelo contrário, isso mostra que somos iguais e preenchidos pelas mesmas angústias e egoísmos. 

Será, então, nossas mortes serão iguais?


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