domingo, 11 de outubro de 2015

Vidas de Sábado a noite

Um taxista jurando a si mesmo novamente que só mais uma viagem e seguirá pra casa. Pega a vasilha depositada ao seu lado na porta do motorista e derrama algumas balas caseiras de gengibre que sua esposa preparou. O ar condicionado deu defeito antes mesmo do meio dia e o trânsito do Rio não estava dos melhores. Os olhos piscam cansados mas a expressão ainda é relaxada.   
Pai e filho passando de taxi pelas ruas quase vazias da Glória, a caminho de Santa Teresa. É final de semana com o pai então o menino capta cada detalhe no ambiente não usual a sua volta. O filho olha pelo vidro fascinado pelas luzes de postes amarelos que banham em brilho os fantasmas das prostitutas esperando clientes, pacientemente, em seus saltos de 15 centímetros. A bala de gengibre queima sua língua mas prefere prestar mais atenção no que seus olhos bem abertos olham no exterior do carro. O pai não percebe.   
Uma prostituta que vê os poucos carros passando pela rua mal iluminada, se apoia no muro de pedra e se ajeita no vestido azul escuro, cerrando as cochas pálidas cobertas pelas desgastadas meias arrastão. Está abafado. Passa a mão impaciente pelos fios lisos e falsamente loiros. Tira um pequeno espelho da bolsa de mão e checa a maquiagem. O batom cor de sangue continua intacto,  o rímel ainda destaca os olhos castanhos e o corretivo continua escondendo as olheiras profundas. Vê outras vestidas parecidas a sua volta mas nem liga. Impacientemente, espera alguém. Qualquer um. 
Um garoto conhecendo a vida noturna barulhenta em alguma boate da Lapa. Os dois amigos o deixaram sozinho no bar, bebendo um pouco de Whisky, enquanto vão a caça de alguma mulher que os adore por um momento. O líquido âmbar tem um gosto forte e amargo, mas ele não liga. A música é alta demais. Uma moça baixinha e magrela se senta ao seu lado, sem intenção a mais alguma a não ser descansar os pés do salto baixo. Parece cansada e incomodada. Meio incerta pede uma taça de vinho ao barman e suspira aliviada quando o mesmo só franze o rosto e assente. O garoto a olha de lado e identifica a também iniciante. Sorri de lado e bebe mais um gole. A moça percebe sua presença e o olha também. Ele ainda sorri atrás do copo. Ela recosta no banco de couro, no momento em que o barman volta deixa a taça na bancada. Pega o recipiente com o líquido escuro, o olha diretamente, ergue-o de leve e dá um pequeno sorriso. O garoto arregala um pouco os olhos surpreso e repete os movimentos sorrindo tímido ao final. Os dois bebem. 
Um corredor no Grajaú, ouvindo Metallica aos últimos volumes do velho Ipod, ofega e pinga de suor mas não para. Não ligando pro risco de ser assaltado ou para a falta de ar. Só querendo tirar da cabeça o peso do dia, da semana, do mês, dos anos. Só querendo sair de casa e respirar, mesmo que com dificuldade. 
Uma professora fumando seu Marlboro na poltrona em frente à janela , preparando uma aula sobre ditadura para o nono ano. A casa em silêncio e o cachorro tirando um cochilo na cozinha. Aos seus 25 anos já sente a vista cansada e a voz rouca, mas o sorriso é tranquilo e feliz quando decide aparecer. Mas neste momento, a cabeça dói e se sente muito casada então apaga o cigarro no mármore do parapeito e vai dormir. 
Uma adolescente, lá pelos seus 16 anos, fingindo estar sozinha em casa. Dança em silenciosamente em frente ao espelho. De batom vermelho, pijama e rabo de cavalo. Conversa consigo mesma baixinho, sussurrante. Toma uma xícara de chá de Camomila, como se fosse a mesma que o tivesse preparado, não a mãe que dorme tranquilamente no quarto ao lado. Finge ser adulta. Mas apenas se senta no sofá com sua, na verdade, caneca de alguma banda de Rock e escreve um texto um tanto dramático para algum blog aleatório da internet.  



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