Oi, como você
está?
Espero que
melhor do que eu, que há dias ando convencida de que ser feliz é só um mito. Veja
bem, mesmo se as pessoas tentassem me convencer eu não acreditaria nelas. Posso
perceber a insatisfação nesses rostos cansados. Posso enxergar as cicatrizes
por trás de cada sorriso falso. Já não podem mais me enganar.
No entanto,
mesmo tentando fingir que não tenho mais esperança, ainda espero que algo extraordinário
aconteça. Sempre. Mas isso também não faz sentido; quando algo extraordinário
acontece em nossas vidas, passamos tempo demais admirando, como um cometa que
passa rasgando o céu, com o olhar descrente de alguém que já havia quase
perdido as esperanças. Quase não aproveitamos algo assim. E depois, quando
acaba - quando o cometa se vai - levamos tempo demais nos recuperando do fim,
aceitando o fato de que os bons tempos se foram e que mais uma vez você irá
sentir como se não fizesse mais sentido estar ali.
Às vezes
tentamos transformar coisas banais em extraordinárias, também. Não sei se é bom
ou ruim. Estamos sempre tentando desesperadamente preencher o vazio – vazio de
felicidade, de sorrisos. De vida.
E é quando essas
coisas extraordinárias acontecem, e eu vejo o quão raro são esses momentos, que
eu percebo o quanto dói não ser feliz. Isso me destrói pouco a pouco.
E porque
descobri isso, resolvi vir aqui hoje. Porque estava me sentindo perdida. E esse
lugar parece tão distante de tudo – uma terra de ninguém – que ser, ou não,
alguém não faz diferença aqui.
Eu preciso de
ajuda. Não aguento mais passar por tudo sozinha.
- Você pode me
ouvir? – perguntei, dessa vez em voz alta, olhando a pequena moldura presa à lápide.
Pegaram sua pior foto. - Porque sinto como se estivesse gritando por dentro,
mas não quero perturbar os outros mortos.
Encarei novamente a pequena fotografia em preto e branco e,
angustiada, esperei por uma resposta. Todo aquele silêncio me dava arrepios.
- Mas talvez eles possam me responder, já que você parece
ocupado demais debaixo desses sete palmos de terra.
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