domingo, 10 de maio de 2015

Ator

A ciência diz que para uma espécie sobreviver ela precisa se adaptar, ela precisa mudar sempre, no momento em que ela parar ela já está morta, eu sobrevivi, até aqui pelo menos. Meu nome não importa, assim como tudo em minha vida ele muda constantemente, sempre procurando por um eu melhor pra situação em que se encontra. 
Como você que lê esse testamento eu recebo rótulos, todos recebemos, e nós, a maioria de nós, nos adequamos a eles, pois somos sobreviventes, e para sobreviver nos adaptamos, nos tornamos algo diferente, nos distanciamos cada vez mais do original para adentrar o sistema, para subsistir ao sistema, para ser o sistema.
Eu já fui muitos, lembro de uma vez que banquei o frágil e inocente apenas para abocanhar um novato pouco adaptado, teve outra em que fui burro e lerdo para voltar a atenção de todos a mim, e depois, crescer vagamente meu nível de inteligência saboreando cada segundo da presença dos enganados, apenas para me manter no controle, essa sensação é a melhor possível, mas lembre-se,  quem está no controle nunca é quem você acha que é, e você sempre pensa que é você o controlador. Os enganados? Eles pensavam isso enquanto eu os manipulava. Eu? Eu tinha certeza disso enquanto era mais uma marionete.
Voltemos o foco pra atuação, a parte mais absurda e ingrata do trabalho, por que digo isso? Porque foi ela que me sucumbiu, mas isso é melhor entendido linhas á frente. Como eu disse antes, eu já fui muitos, eu já fui inteligente e já fui burro, já mostrei lados sérios e lados cômicos, já iludi sendo pensador e filósofo pra questionar todos sobre questões já feitas, já aparentei ser robusto pra horas depois ser frágil, o ápice de minha carreira, se assim posso à chamar, foi interpretar três pessoas ao mesmo tempo para 5 diferentes espectadores na mesma sala sem perder o disfarce e sem nenhum dos três personagens ser meu verdadeiro eu, verdadeiro esse que está trancado em um cofre jogado em alto mar, tão distante e tão secreto que nem mesmo eu sei como ele é. Sim, eu me perdi entre os papéis, eu me agarrei a escuridão ao me afundar nos rótulos, e provavelmente não conseguirei sobreviver mais, pois como já dizia o pensador: "A curiosidade é a sentença do homem." Ela também é minha esperança, pois é a única coisa que eu sei do meu verdadeiro eu, ou pelo menos quero acreditar que seja, e essa curiosidade quer saber mais sobre o que está trancado e submerso, e eu não posso parar, pois a curiosidade é como uma fagulha em um barril de pólvora, não pode ser parada e o resultado nem sempre é bom, mas eu vou procurar por mim em águas profundas em meio a mágica da vida, provavelmente encontrarei mais um personagem, mais um eu que rapidamente será consumido pelos outros, sejam eles velhos ou novos.
No fim, eu ainda penso que posso sobreviver, eu consegui o papel supremo e não preciso de nenhum outro, pois eu controlo minhas decisões e ações, eu sempre estive um passo à frente de todos, até mesmo de você. Duvida? Procure a citação sobre a curiosidade descrita acima em qualquer lugar, eu também já fiz o papel de pensador lembra? Eu sou o enganador que sempre vai usar dos meios mais sujos e dos fatos mais distorcidos pra driblar sua inteligência arrogante, eu sou o ilusionista que vai te conduzir para as respostas erradas para meu entretenimento e diversão, eu sou o apostador que vai adicionar elementos no jogo pra medir suas reações e te manipular, eu sei que você gosta de se sentir no controle e usarei isso pra me satisfazer. Não me julgue me pondo mais rótulos, eu já aprendi a pôr-los eu mesmo, não venha me chamar de hipócrita ou falso, seria hipocrisia e falsidade da sua parte, sabe por quê? Por que no final, mesmo você não admitindo, eu sou uma parte de você e você já está morrendo.


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