Olá caro desconhecido/passageiro do ônibus/atendente de
loja/pessoa que vi outro dia no supermercado.
Estou aqui para me explicar, pois parece que você não
entendeu muito bem. Outro dia, enquanto caminhava tranquilamente, com os
pensamentos mais loucos, ou simplesmente com uma música que não saía da cabeça,
reparei em você em meio a todos os outros. Tenho quase certeza de que você me
viu, reparou que eu estava o observando, e simplesmente desviou o olhar.
Dependendo da expressão que eu estava fazendo, muito
provavelmente você achou que eu estivesse o encarando por acha-lo bizarro,
estranho, esquisito, e afins. Afinal, qual outro motivo eu teria para isso? Em
meio à uma multidão de pessoas, você é apenas mais um, não é mesmo?
Não, não foi nada disso.
Seu cabelo é legal. Ou talvez a forma com que você olha para
as pessoas, ou como anda. Ou como se desliga do mundo quando põe os fones de
ouvido. Ou quem sabe seu gosto musical – é, eu vi a camisa que você usava.
Aliás, é minha banda favorita, sabia?
Queria saber de onde veio a ideia para a tatuagem que tem no
ombro...
Sabe, quando me sinto perdida no mundo, quando acho que nada
de bom sobrou para ver, lembro de você. Lembro de você e de todos os outros.
Aqueles que não têm medo de ser o que são, que são únicos, que não aceitam que
os obriguem a seguir padrões, já cansados de verem todos se vestirem e agirem
de forma igual.
Você me inspira e me encoraja a ser o que sou quando fico
insegura. Tenho certeza que você também tem alguém que é assim para você, já
que a insegurança adora fazer uma visitinha de vez em quando, só para testar
seus valores. Todos precisamos de incentivo de vez em quando.
Às vezes, tudo o que queria era olhar pela janela e te ver
passando pela rua. Queria te entregar essa carta, e matar minha curiosidade,
pois eu realmente queria saber o porquê da sua tatuagem.
Pena que quando te vi, ainda não havia adotado alguns
hábitos. Hoje em dia, quando alguém na rua me chama a atenção, eu sorrio para
ela como se levantasse uma placa, um lembrete que diz “Você é legal, tá?”. Não
quero que ninguém desista de ser o que é por causa de olhares mal
interpretados.
Espero que você ainda seja como quando te encontrei. Espero
que não tenha cortado o cabelo. Nem que tenha parado de escutar aquela banda só
porque todos dizem que é esquisita. Ou então que tenha começado a usar camisas
de manga para esconder a tatuagem do ombro.
Um dia eu vou te encontrar de novo. Entregar a minha carta. Matar
minha curiosidade. E ainda sorrir, só para ter certeza que você sabe.

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