domingo, 29 de março de 2015

Quero que saiba

Olá caro desconhecido/passageiro do ônibus/atendente de loja/pessoa que vi outro dia no supermercado.
Estou aqui para me explicar, pois parece que você não entendeu muito bem. Outro dia, enquanto caminhava tranquilamente, com os pensamentos mais loucos, ou simplesmente com uma música que não saía da cabeça, reparei em você em meio a todos os outros. Tenho quase certeza de que você me viu, reparou que eu estava o observando, e simplesmente desviou o olhar.
Dependendo da expressão que eu estava fazendo, muito provavelmente você achou que eu estivesse o encarando por acha-lo bizarro, estranho, esquisito, e afins. Afinal, qual outro motivo eu teria para isso? Em meio à uma multidão de pessoas, você é apenas mais um, não é mesmo?
Não, não foi nada disso.
Seu cabelo é legal. Ou talvez a forma com que você olha para as pessoas, ou como anda. Ou como se desliga do mundo quando põe os fones de ouvido. Ou quem sabe seu gosto musical – é, eu vi a camisa que você usava. Aliás, é minha banda favorita, sabia?
Queria saber de onde veio a ideia para a tatuagem que tem no ombro...
Sabe, quando me sinto perdida no mundo, quando acho que nada de bom sobrou para ver, lembro de você. Lembro de você e de todos os outros. Aqueles que não têm medo de ser o que são, que são únicos, que não aceitam que os obriguem a seguir padrões, já cansados de verem todos se vestirem e agirem de forma igual.
Você me inspira e me encoraja a ser o que sou quando fico insegura. Tenho certeza que você também tem alguém que é assim para você, já que a insegurança adora fazer uma visitinha de vez em quando, só para testar seus valores. Todos precisamos de incentivo de vez em quando.
Às vezes, tudo o que queria era olhar pela janela e te ver passando pela rua. Queria te entregar essa carta, e matar minha curiosidade, pois eu realmente queria saber o porquê da sua tatuagem.
Pena que quando te vi, ainda não havia adotado alguns hábitos. Hoje em dia, quando alguém na rua me chama a atenção, eu sorrio para ela como se levantasse uma placa, um lembrete que diz “Você é legal, tá?”. Não quero que ninguém desista de ser o que é por causa de olhares mal interpretados.
Espero que você ainda seja como quando te encontrei. Espero que não tenha cortado o cabelo. Nem que tenha parado de escutar aquela banda só porque todos dizem que é esquisita. Ou então que tenha começado a usar camisas de manga para esconder a tatuagem do ombro.

Um dia eu vou te encontrar de novo. Entregar a minha carta. Matar minha curiosidade. E ainda sorrir, só para ter certeza que você sabe. 

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