Por que sou tão feliz na ficção que crio?
Por que sou tão feliz na ficção que observo?
Por que sou tão feliz na ficção que provo?
Por que sou tão feliz na ficção que insisto em acreditar?
Bem, é o mais próximo que tenho da perfeição.
A ficção é mais mágica, bonita e brilhante. A realidade em comparação? Mais fria, seca e em preto e branco.
É uma ideia boba, mas é verdade, eu tenho isso. Você não? Nem um pouco?
Não sei lidar com o real, talvez, por isso procuro o imaginário, meu ou de outro. E ''lá'', sendo tecnicamente ''perfeito'', a felicidade pode mesmo ser mais palpável, o amor mais ardente e até a tristeza pode doer mais também, porque eu insisto em mergulhar muito fundo.
Uma imagem projetada em uma tela, que faz meus olhos brilharem e meu coração bater mais forte. Palavras escritas em folhas de papel, que mantém meus olhos vidrados e meu corpo parado. Uma melodia que sai de auto falantes. Recebo o sentimento que vem de lá.
Fujo, em vez de tornar o que já tenho melhor. É mais fácil.
Mas é bom, não? Ser feliz ali. Acho que posso ter me viciado. Eu tinha que perceber o limite e não lembro quando o vi por aqui.
Nos breves momentos em que permito me levar e esquecer, sou mais felizes, talvez.
Deve ser algo da natureza humana, acham sempre um jeito de escapar e gostam disso.
Eu quero isso. Quero sorrir por um casal que fica junto, mesmo eu nem os conhecendo. Quero chorar pela morte de quem não conheço mas gosto seja lá o motivo. Quero sentir uma música entrado pela minha pele e arrepiando os pelos da minha nuca. Quero ser feliz numa história que não é minha, algo que não sou eu. Mas isso já está me machucando. Sem exageros, por favor. Tudo deve acabar quando fecho o livro, quando as luzes do cinema se acendem, quando a melodia cessa, quando eu paro de olhar.
O problema é viver nessa ilusão. Chega uma hora em que a cabeça não aguenta.
Então vou tentar ficar onde estou, vou aprender a gostar daqui, e depois tento toda a experiência ilusória de novo. Alguém me disse que é melhor. E que vai ser melhor.


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