Gostamos
de te rodear, te observar, te recriar e te deformar.
Queremos
ver você sangrando, você chorando, você enlouquecendo, você humilhado, você
aberto, inteiro e pela metade.
Você
não é mais que uma presa.
Vamos
guardar esses momentos e mostrar aos outros por um tempo, longo ou curto,
depois, não de verdade.
Um
dia você é, no outro não.
Lembram,
mas não se importam.
Será
lembrado, porém esquecido. Complicado, não?
Você
perde a utilidade. Você envelhece, nós não.
Mas
entenda, sempre há o mesmo fim, e você perde nele.
Ganhamos
e continuamos ganhando, de novo e de novo.
Nos
deixe observá-lo, nos deixe gravá-lo, nos deixe destruí-lo, nos deixe opiná-lo,
nos deixe imaginá-lo; apenas nos deixe, pensamos ser nosso direito.
Sorria
para a câmera. Você chamou nossa atenção.
Eu
te amo!
Eu
te odeio!
Quem
é você mesmo?
Você
é a imagem, você é o alvo, você é a presa, você é o norte, você é a estrela e
você não é nada. Nós te fazemos, nós te construímos, nós também podemos te
destruir.
Conseguimos
te enlouquecer?
Aqui
vai um quadro: você está deitado no meio da rua. Morto, sangrando, chorando,
protestando, tanto faz. Aqui vai outro: você está berrando conosco. Por quê?
Não fizemos nada de errado que lembremos, percebemos ou sequer nos importemos.
E nosso favorito: você está implorando pela sua vida.
Lamento,
peça algo diferente, isso não podemos fazer. Já foi feito.
Entre
nós há mentores e imaginadores: os primeiros lançam as ideias e os outros as
reproduzem como quiserem e perpetuam as conclusões.
Você
está morto, isso é tudo. E será difícil mudar.
Se
quiser, você que se desgaste tentando. Estamos ocupados. Você não é o único com
quem trabalhamos, sabia?
Agora,
deixe vir o próximo da fila, amanhã te matamos mais um pouco, talvez, se valer
a pena.
E
antes de ter raiva de nós, Abutres, não se esqueça que você também é um de nós,
inconscientemente ou não.

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